sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O Esoterismo de uma Catedral Gótica

Numa Catedral gótica, encontramos bizarras figuras que se agarram aos pináculos, colam-se aos arcobotantes, prendem-se aos muitos frisos de pedra talhada, suspendem-se nas abóbadas, e até se escondem nos mais recondidos nichos e nos mais sombrios recantos, que pela sua profusão e simbolismo, parecem contradizer o fim para que aquelas jóias da arquitectura foram edificadas, dado que fazem parte integrante da decoração de uma Catedral gótica, uma panóplia de figuras que bem poderiam ser consideradas sacrílegas, ou no mínimo heréticas, que vão desde as horrendas gárgulas, até aos ameaçadores dragões alados e aos vampiros de aspecto assustador, passando pelos misteriosos ciclopes, até às figuras que entroncam e dão vida aos contos e às lendas da mitologia celta, como sejam as figuras do homem verde e do seu deus “Pan”, que por ter sido apresentado aos cristãos, libidinoso e o principal figurante em ritos considerados por estes de deboche e de libertinagem, durante muito tempo, foi confundido com o próprio demónio cristão.

Todavia, apesar desta figura metade homem e metade bode, semelhante a muitas representações do “Bafomé” dos Templários, causar ao homem medieval calafrios e medos justificados, para nossa grande surpresa, não deixou de ornamentar com grande destaque, os frisos dos pórticos da maioria das Catedrais góticas. Pelo que esta figura de aspecto horripilante, tal como o símbolo Templário de que muito se assemelha, parece ter sido ali colocado, para transmitir ao Iniciado, que transpõe o pórtico da Catedral gótica, de que está a entrar num espaço sagrado, que o transcenderá à essência Divina e, que uma vez catapultado para essa dimensão cósmica, se confundirá com o próprio Deus, uma vez que neste espaço sagrado lhe é transmutado o verdadeiro sentido da humanização.

Para além desta criativa e surpreendente estatuária de aspecto horripilante e sacrílego, convivem lado a lado com estes monstros de pedra esculpida, uma fauna não menos bizarra e peculiar, uma vez que apesar de ser considerada pela cristandade medieval, maldita e pagã, não deixaram de ornamentar estes colossos símbolos da fé cristã. É o caso do grifo, que é uma figura mitológica meio leão, meio águia, e que a antiga Igreja Cristã considerava ser o invólucro do demónio; ou até mesmo o cavalo, que por esta Igreja foi durante muito tempo considerado ser a montada das forças das trevas; e muitos outros animais considerados por esta malditos e impuros, fazem parte integrante da decoração das Catedrais góticas, como é o caso do bode, que para aquela Igreja era o símbolo da luxúria; a loba, que esta considerava ser o símbolo da avareza; o tigre, que considerava ser o símbolo da arrogância; o escorpião, considerado ser o símbolo da traição; o leão, considerado ser o símbolo da violência; o corvo, considerado ser o símbolo da malícia; a raposa, considerada ser o símbolo da heresia; a aranha, considerada ser o símbolo do diabo; o sapo, considerado ser o símbolo do pecado, e muitos outros animais com conotações sacrílogas ou perniciosas para esta.

Para além desta intrigante e peculiar fauna, fazem parte da decoração de algumas Catedrais góticas os símbolos alquímicos, andróginos, hermafroditas e também os símbolos que representam a eterna busca da juventude pelo homem, os quais, pelo menos em duas Catedrais, estão bem explícitos e muito visíveis. Um na Catedral de Chartres, numa gravura, onde está representada a rainha de Sabá exibindo uma barba, e outro na Catedral de Nantes, onde também numa gravura, está representada uma figura de um homem que aparente estar na flor dos anos, a olhar para um espelho, cuja parte posterior da cabeça é a de um homem que já viu e suportou bastantes invernias.

Na verdade, os símbolos alquimicos, que foram muito do agrado dos antigos maçons operativos, em todos os tempos têm sido considerados a fonte inesgotável de conhecimentos que prolongam a vida, e o cerne da longevidade, se não mesmo o segredo da verdadeira imortalidade física. E, por terem sido incluídos na decoração das Catedrais góticas, muitas delas financiadas pelos Cavaleiros Templários, descortinam-nos a pretensão que estes Cavaleiros tinham em quererem alcançar o último poder, o poder da imortalidade.

Um outro elemento patente na decoração de uma Catedral gótica, não menos surpreendente e intrigante, e que por sinal, também foi muito do agrado e apreço dos Cavaleiros do Templo são as misteriosas e inigmáticas Rosáceas, as quais são a primeira representação luminosa da transfiguração, a “roda” para os alquimistas, por representar o tempo necessário para o fogo transmutar a matéria e, o livro pintado para o ensino do sagrado através da arte vitral.

Na verdade, para além de outras possiveis caracterizações, o gótico distingue-se pelo intenso trabalho dos antigos maçons operativos, que com o malho e o cinzel, souberam manifestar físicamente através destes colossos o seu génio e o seu próprio trabalho interior, dado que estes monumentos reflectem a sua obra interna e externa. Pelo que podemos considerar que estes monumentos da cristandade substituiram o pergaminho, uma vez que a ornamentação esculpida, veio a ajudar a divulgar mensagens proibidas na impressão. Provavelmente, uma das principais razões porque foram as grandes Catedrais em pedra decoradas com a diversa, bizarra e sacrílega decoração, a qual ainda hoje, transmite aos crentes uma mensagem exotérica, e aos iniciados, uma mensagem esotérica. Porém, o conhecimento que estes templos emanam a quem os visita, nada poderá ser considerado mais laico, e pela profusão das imagens moldadas pela luz bácea que vem do alto, nada poderá ser considerado mais humano.

Sem comentários: