sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Diferenças entre o Estilo Românico e o Estilo Gótico

Quando a arquitectura de estilo gótico surgiu na Europa, esta foi considerada como sendo um estilo completamente novo, muito diferente da arquitectura românica que lhe precedeu, o que seria mais lógico e natural. Antes pelo contrário, comparados, são estilos arquitectónicos muito diferentes entre si. Pois, enquanto que o estilo românico é maciço, pesado e de linhas simples, com um interior sombrio, o que lhe confere uma atmosfera de segurança e de tranquilidade, muito propícia à submissão e à devoção do crente, o estilo gótico é muito iluminado e ricamente ornamentado, o que transferia para o homem medieval o significado de que a Catedral gótica era mais do que um Templo, pois, esta era também o seu centro social e o seu ponto de encontro com o divino. Na verdade, a Catedral gótica era o próprio coração da sua cidade.

Quanto às forças dinâmicas, os dois estilos também são muito diferentes entre si, uma vez que enquanto que a arquitectura românica se baseia numa força que age de cima para baixo, a arquitectura gótica baseia a sua força exactamente no princípio oposto, ou seja, neste estilo a pressão age de baixo para cima. Pelo que se a estrutura for mal construída, as consequências são para o estilo românico, simplesmente o de ruir, enquanto que para o estilo gótico, as consequências são o de explodir.

Por outro lado, quando comparamos visualmente um templo edificado com o estilo arquitectónico românico com um templo edificado com o estilo arquitectónico gótico, verificamos que estes últimos têm uma maior altura e uma maior graciosidade. Na verdade, pelo facto das naves dos templos de estilo gótico serem muito mais altas. Houve a necessidade básica de abrir janelas nas paredes para que o seu interior fosse iluminado com a luz natural, pelo que para isso, foi necessário aliviar o peso destas, construindo-as mais finas e, por consequência, foi necessário concentrar as cargas das abóbadas em determinados pontos, por forma a que as paredes deixassem de receber os esforços da sua sustentação, o que permitiu a abertura das grandes janelas. Por outro lado, a maior altura da nave central conduziu à necessidade de que estas fossem abertas por cima das naves laterais, de forma a iluminar naturalmente a nave central, ou seja enquanto que as naves laterais, onde se situam os nichos e toda uma estatuária sagrada e herética, está sempre mergulhada na penumbra, o que simboliza o corpo, já a nave central, por ser iluminada pela luz que vem do alto, significa o espírito. Por sua vez, na zona onde se cruzam os transeptos, onde se situa o altar mor, por ser a zona do templo mais iluminada, simboliza o coração deste e a morada da própria divindade.
Por conseguinte, na arquitectura de estilo gótico, o uso de arcos ogivais em diagonal veio a permitir direccionar o peso das abóbadas para os contrafortes e, estes por sua vez descarregam estas pressões no solo. Para isso, foi fundamental a adopção do arco ogival, o qual recebe diretamente as pressões exercidas pelo tecto. Assim, no estilo gótico, os contrafortes não são mais do que colunas internas encostadas às paredes, erguidas na parte exterior das naves laterais. Por sua vez, o segmento de arco que recebe a pressão exercida pelo peso da abóbada e que a transmite ao contraforte, chama-se arcobotante, bem visivel em muitas catedrais góticas famosas. Em suma, no templo de estilo gótico existe uma série de forças em equilíbrio, que se compensam umas às outras, sendo os contrafortes e os arcobotantes aqueles que sustentam todo o edifício. Na verdade, no estilo gótico, as janelas dos templos são tão grandes que reduziram o edifício a um simples esqueleto de pedra, fechado por janelas e, estas forçosamente na forma ogival.

Quanto ao frontispício das Catedrais góticas, este geralmente é delimitado por duas torres que partem da base das naves laterais, perfuradas por janelões e rematadas por pináculos em forma de agulha. No meio das duas torres, no centro do edifício situa-se geralmente a rosácea central, um imenso círculo que deixa passar a luz filtrada em sentido longitudinal, iluminando o altar-mor ao fundo da igreja. Lateralmente, nos transeptos, existem mais duas rosáceas irmãs, embora de tamanho mais pequeno. Nas Catedrais góticas a rosácea é um elemento muito importante na medida que a sua forma circular remetenos para dois símbolos: o Sol, símbolo de Cristo e a Rosa, símbolo de Maria.

Claro, que no sentido mais prático e lógico, as Rosáceas foram abertas no frontispício e nos transeptos das Catedrais góticas para que a luz entrasse no seu interior. Contudo, não a luz clara e nua do Sol, mas sim, a luz macilenta, um pouco coada e até, um tanto filtrada e multicolorida, que cria uma atmosfera propícia à contemplação e ao recolhimento. E, no sentido simbólico as Rosáceas têm um grande significado, nomeadamente: a Rosácea que se abre na fachada do transepto esquerdo, a setentrional, que nunca é iluminada pelo Sol e, por isso simboliza a escuridão, a matéria no seu estado bruto, a morte. Já a Rosácea meridional, aberta na extremidade do transepto da direita, quando é iluminada pelo Sol do meio-dia, irradia uma luminosidade branca, a cor das vestes do Iniciado que acaba de abandonar as trevas e que se dirige para a Luz. Por sua vez, a rosácea central, que ultrapassa em superfície, em beleza e em brilho as rosáceas laterais, suas irmãs, ao receber os raios coloridos do pôr-do-sol, projecta para o interior da Catedral uma luz espectral e policroma de tonalidade rubra, que é sinónimo da absoluta perfeição e, do domínio do espírito sobre a matéria, que de um modo cíclico, diariamente, reflecte no chão sagrado as cores da Obra.

Por outro lado, para além das Rosáceas servirem para iluminarem naturalmente o interior das Catedrais góticas, servem ainda para suportarem a “teia” que agrupa os vitrais em representações das principais cenas da história da Igreja e, dos episódios mais marcantes do Antigo e do Novo Testamento, a fim de com este recurso gráfico, os visitantes, mesmo que iletrados, possam facilmente aprender o sagrado.

O frontispício de um Catedral gótica divide-se em três partes horizontais: a inferior ou base, onde estão as três portas, ou entradas do templo, sendo a porta central maior do que as laterais, onde há sua volta destingue-se as arquivoltas, muito trabalhadas e esculpidas, em forma ogival, para representarem a sexualidade da deusa, aquelas que dão acesso ao grande ventre.

Em suma, A catedral gótica, eleva-se para o céu como uma oração e tal como a filosofia medieval, exprime o intangível e transcende o homem na sua procura do além. E, em termos mais “terrenos” a Catedral gótica não é mais que uma estrutura esqueléctica de pedra coberta por vitrais, cuja complexidade de equilíbrios exigiu do “mestre-construtor” um conhecimento matemático muito mais exigente do que aquele que lhe fora exigido pelo estilo arquitectónico românico, o qual por ser muito avançado para o conhecimento medieval, releva-o para mais um elemento preponderante à tese de que a arquitectura gótica tenha surgido na Europa através de um conhecimento secreto, adquirido no Oriente, na altura uma cultura mais evoluida que a Ocidental.

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