sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A Catedral Interior

Se interrogarmos o mais comum dos mortais, para que nos explique o que é uma Catedral gótica? De certo, que ele nos dará como resposta, que uma Catedral é o Palácio de Deus. Mas, se a intensidade da fé desse mortal for imprecisa e pouco segura, então, ele dar-nos-á como provável resposta: que uma Catedral é um lugar destinado à meditação e à oração. Porém, se interrogarmos um herdeiro das herméticas tradições Templárias, provavelmente, responder-nos-á qualquer coisa como: uma Catedral, tanto poderá ser o nosso “Caminho na Terra”, como poderá ser o nosso “Templo Interior”. Pois, tal como aqueles belos livros de pedra rendilhada com os seus pináculos a furar os Céus, escondem e expõem conhecimentos, pois tal como aqueles colossos, o nosso “Templo Interior” também expõe as nossas virtudes, e esconde os nossos erros; mostra as nossas esperanças, e ofusca as nossas decepções.

Assim, o Iniciado consciente da sua Fé, constrói na Terra a sua Catedral Interior para que a sua vida nesta seja correspondente àquela que espera vir a ter nos Céus, e deste modo, o Iniciado parte simbolicamente de Aprendiz a Companheiro, e ao concluir a edificação da sua Catedral Interior, chega finalmente à qualidade de Mestre. Aliás, no contexto medieval, a Catedral gótica também tinha a imagem de ser o Céu na Terra, dado que oferecia ao crente uma forte impressão do sagrado e do Divino, tanto pelo seu forte simbolismo, que se agarra às paredes, que se esconde nos nichos e que se suspende das abóbadas, como pela majestade e solenidade das imagens dos apóstolos e de Deus a olharem-no de cima para baixo, como que a analisarem o seu verdadeiro intimo. E, tal como a Catedral de pedra, é erguida de harmonia com o Verbo e, não por consequência de um qualquer racionalismo, também nós erguemos a nossa Catedral interior na mais pura base de uma forte formação moral; nas acções que praticamos no dia a dia; e pela beleza dos nossos pensamentos, os quais poderão conduzir-nos para além do finito, do tempo e do espaço que conhecemos como mortais.

Por outro lado, se a Catedral de Pedra representa nitidamente os dois mundos da vida na Terra: o mundo exterior, onde a história da imortalidade é vivenciada na estatuária e nas histórias que são contadas através dos coloridos vitrais, e a do mundo interior, o qual é representado pelo espaço, pela grandiosidade, pelo silêncio, pela paz, e pela pura luz que vem do alto. Na verdade, o sagrado de uma Catedral Interior, está no nosso pensamento, que nos conduz à imaginação de um Universo transcendente, berço de infinitas vidas. Pelo que tal como a Divindade habita na Catedral de pedra, podemos considerar também, que o nosso “Eu” habita na nossa Catedral Interior, em perfeito silêncio e em harmonia com Esta. Por isso podemos também considerar que o mundo exterior a este Templo Interno, é um mundo profano, confuso e cheio de ruido, que nos impossibilita concretizar a nossa verdadeira missão espiritual, neste minusculo ponto azul.

Os Cavaleiros Templários, que para além de outros feitos, se notabilizaram na construção das Catedrais góticas, essencialmente, por terem o conhecimento secreto de que construir significava muito mais do que edificar uma estrutura de pedra, uma vez que tanto para eles, como para aquele que é o verdadeiro crente, construir significa ter a capacidade de gerar espaços e lugares que propicionam a união da Terra ao Céu, o que faz com que através da construção, o Homem se ligue ao Divino e ao Sagrado, formando deste modo a unidade. Pelo que através deste conhecimento secreto os Cavaleiros Templários tinham a interiorização e o conhecimento necessário para compreender os valores harmónicos que emanam de uma Catedral gótica.

Todavia, não é necessário sermos Iniciados nos mistérios dos Cavaleiros do Templo, para sentirmos o sagrado de uma Catedral Gótica, uma vez que este está expresso tanto nas suas dimensões e volumetria, como está espresso nas imagens que ostenta e na qualidade da luz que é filtrada e projectada para o seu interior.

Agora, que já conhecemos a nossa Catedral Interior, entremos na nossa câmara de reflexão, pelo holograma da porta da Deusa, à semelhança e imagem da porta que nos permitiu entrar nesta nave planetária, para que o nosso recolhimento espiritual seja meditativo e primordial, tal como o faríamos no interior de uma Catedral de pedra. Pois, tal como naquela, quando entramos na nossa Catedral Interior, para além de suspendemos a confusão dos nossos pensamentos, suspendemos também o turbilhão dos nossos apegos e dos nossos anseios, e neste estado de pureza e de leveza absoluta, preparamo-nos para aumentar a pequena Luz que habita no nosso “Eu”, uma vez que é quando com sinceridade nos entregamos à meditação e à reflexão, que aquela pequena e timida Luz que habita no nosso peito, aumenta de intensidade. Essa timida Luz que conhece os nossos mais íntimos segredos, não tem comparação com outro qualquer fenómeno, uma vez que apesar de pequena, agiganta-se no nosso coração, toma-o por completo e, propaga-se ao nosso pensamento e a todo o ambiente que nos rodeia e nos envolve, fundindo-se instantaneamente com a Luz que ilumina este minusculo ponto galáctico.

Agora que conheces a existência de uma Catedral Interior em cada um de nós, quando visitares o teu Templo sagrado, lembra-te desta “peça de arquitectura”, pois estraste no palácio de Deus, e por conseguinte, aproveita esse momento para purificar o teu pensamento, por forma a que o teu espírito esteja sempre pronto para integrar essa Luz Eterna, que em cada dia nos ilumina com a sua Sabedoria, com a sua Beleza e que nos dá a sua Força, para continuarmos a nossa viagem galáctica que um dia iniciámos, e que nunca chegaremos a ver o seu término.

A Caminhada no Interior de uma Catedral gótica

Ao entrarmos numa Catedral gótica, entramos pela porta que dá acesso à nave principal, e por essa via, tanto podemos caminhar com os traços que marcam o nosso sacrifício, como podemos caminhar com satisfação, uma vez que a emoção com que iniciamos a nossa caminhada nesse espaço sagrado, só depende de como foi construída a nossa Catedral interior. Entremos, pois, no interior da Catedral imbuidos de fé e de esperança. Logo à entrada (nas poucas Catedrais góticas ainda existente), podemos encontrar o chamado “Labirinto de Salomão”, por ser o símbolo da Sabedoria, que no mais puro sentido alquímico, tem o mesmo significado que é atribuido ao mito grego de Teseu, o herói que entra num labirinto para combater o Minotauro. E, que após ter vencido o monstro metade homem, metade touro, consegue regressar, graças ao fio que sua esposa Ariadne (aranha) lhe dera. Porém, para o cristão, o labirinto de uma Catedral gótica assume um simbolismo mais consentâneo com a sua filosofia, o qual para ele passa a significar o caminho que une a Terra com o Céu. Assim, ao percorremos os seus labirinticos caminhos, procuramos chegar à nossa salvação eterna e, para que isso seja possivel, simbolicamente temos que enfrentar a morte e a ressurreição, até chegarmos à Jerusalém celeste, ao Santo Graal.

Na verdade, ao caminharmos neste labirinto, estamos simbolicamente a caminhar nos caminhos que iremos percorrer em toda a nossa vida. Pois, mais cedo, ou mais tarde, entraremos em contacto com o nosso monstro interior, isto é, entraremos em contacto com as nossas imperfeições. E, quem consegue combater e vencer os seus próprios defeitos (o Minotauro) e possui o fio de Ariadne (o símbolo do conhecimento iniciático) consegue ver a verdadeira Luz e encontrar o Santo Graal.

Assim, vencido o labirinto, continuamos a caminhar ao longo da nave central, e encontrar tanto à nossa direita, como à nossa esquerda, duas ou mais filas de compridos bancos de madeira, que simbolicamente são as muitas Moradas da Casa de Deus, dado que em cada assento, haverá sempre um lugar para quem o procure.

Nessa caminhada em direcção ao trono da Divindade, estamos compenetrados, pelo que não nos distraimos, nem com a estatuária esguia que nos olha por cima, nem com as histórias sagradas que se projectam no chão sagrado. Seguimos sempre em frente, pois sabemos que encontramos o Altar ao fundo dessa comprida nave, no qual se consagra o pão e o vinho, símbolo da matéria e do espírito, e que por essa razão, é o portal da pureza e da perfeição, a partir do qual não existem mais paixões, nem mais mesquinhez humana. Comungando nesse altar, sabemos que purificamos e limpamos o nosso espírito, das impurezas, das imperfeições de carácter, e das culpas que ao longo da vida vamos formando. Contudo, será somente através do nosso puro e sincero arrependimento, que purificaremos o nosso Eu Interior, e com Este limpo e purificado, sabemos que somos eternos, dado que estamos imbuído da pura Perfeição e da Pureza da Luz Sagrada.

Assim, para alcançarmos essa mística Luz branca que vem do Oriente, temos que continuar a caminhar pela comprida nave da Catedral, rodear a fonte dos transeptos, e obrigatoriamente, voltar o nosso rosto para o Oriente, para a direcção onde nasce o Sol, para a direcção que foi o berço das grandes tradições espirituais. Pelo que ao sairmos do transepto das trevas, obrigatoriamente seguimos em direcção à Luz. E, nessa direcção, poucos passos adiante, sentimos logo a atmosfera que nos convida à introspecção e à reflexão.

Após termos alcançado o altar dos sacrifícios, chegamos por fim ao local onde se situa o Coral Gregoriano, local onde cantam os Anjos e todos os Seres Perfeitos e imaculados, que acolhem todos aqueles que abandonam a sua prisão de carne e ossos, para, finalmente, retornarem ao seu verdadeiro Lar Eterno. E, deste local onde pairam os seres perfeitos e imaculados, por fim, avistamos o Altar Mor.

Chegados ao local onde recebemos a luz que vem do Oriente, a direcção que simboliza a Luz de Deus, Aquele que foi O Grande Arquitecto de todo o Universo, embora lá esteja a representação do Mestre Perfeito que nos indicou o Seu caminho, mais concentâneo com os escritos gnósticos, que nos apresentam um Jesus mais humano e menos divino do que os evangelhos ditos canónicos. Imbuidos da mais pura Fé, sabemos que no coração deste palácio da Divindade, só terão lugar os que abandonaram todas as paixões e todas as misérias humanas, caso contrário, serão obrigados a percorrer o árduo caminho em direcção ao Ocidente, e sair da Paz Eterna, para a confusão do mundo profano, de aprendizagem e evolução.

Uma das sete leis de Hermes diz-nos que o que está em baixo é igual ao que está em cima, o que também é válido para as Catedrais góticas, pois se os pináculos de uma Catedral gótica furam os Céus, as suas criptas perfuram e escondem-se nas entranhas da terra. Lá, que é o paradeiro das ossadas e dos espíritos vagabundos. E, que por estar sempre envolta no eterno manto do silêncio, da humidade e da escuridão, atraem sobre elas densos mistério, pelo que são poucos aqueles que se aventuram sem secretos medos, por aqueles escuros e húmidos labirintos. Nesses lúgubres lugares, podemos encontrar numerosas colunas, encimadas com atarracados capitéis, onde a elegância e a riqueza cedeu o lugar à solidez e à robustez. Na verdade nesta parte intima da Catedral gótica, domina o poder das trevas, que no seu escuro manto, abraça e esconde o asilo dos mortos e a necrópole dos ilustres. E, tal como nas catacumbas romanas, que foram na antiguidade o cemitério dos cristãos, neste lugar de mistério e de medos, também existe lajes de pedra, mausoléus de mármore e sepulcros em ruínas, que nos dão a conhecer fragmentos do passado, e que nos profetizam, que neste mundo nada somos, e tal como aqueles que antes de nós viveram e, ali repousam, um dia também ao pó regressaremos. E, porque esta mensagem é uma verdade intemporal, qualquer mortal receia entrar neste mundo de trevas e de fantasmas. E tanto mais que a panóplia de horrendas figuras que decoram as fachadas da Catedral gótica, parecem anunciar, que naqueles escuros labirintos existem cavernas onde vivem os ciclopes, ou quiçá, ainda pior, podem dar acesso ao portal do inferno.

Na verdade, cada parede, cada coluna destes livros de pedra esculpida, contam ao visitante uma surpreendente odisseia humana, ao mesmo tempo que nos ensina qual é o Caminho Recto, que nos permite não nos desviarmos, nem para os bancos da esquerda, nem para os bancos da direita, a fim de podermos atingir a plenitude do Altar Mor, e de lá, jamais retornar, a menos que seja para auxiliar um nosso irmão, que ainda não tenha conseguido encontrar o seu caminho, e que por isso, vagueia perdido entre os bancos das naves laterais. Assim, ao prestarmos esse auxilio, passaremos a conhecer um dos significados dos dois cavaleiros sobre um único Cavalo. Que é sem dúvida, o voluntário que foi amparar o seu Irmão Menor de Armas, que se achava perdido entre as ilusões do mundo, e a hipnose provocada pela luxuria, cumprindo desse modo o seu juramento sagrado.

O Ventre da Deusa

Poucos são os visitantes duma Catedral gótica, que com um olhar critico e observador, olharam para os portais góticos desses majestosos monumentos da cristandade. Contudo, pelas velhas portas de carvalho já carcomidas pelo tempo, incontáveis gerações de cristãos atravessaram-nas, certamente, imbuídos da mais pura fé, cheios de esperança no perdão e na salvação eterna das suas almas. Provavelmente, muitos deles até pararam para apreciar com algum deleite os seus belos frisos de pedra talhada. Todavia, poucos foram aqueles, que conseguiram descodificar o segredo da sua forma ogival. Que sendo arcos de edificações Templárias, na certa, contêm uma mensagem mística e oculta que se destina aos seus Iniciados.

A história diz-nos que os Templários foram grandes devotos do feminino. A literatura de ficção fala-nos de ritos carnais e obscenos entre os dois sexos. Contudo, tanto a história como a literatura dizem-nos que a devoção que os Templários nutriam pela mãe de Jesus Cristo, Maria, era muito sentida e profunda, o que não nos surpreende, uma vez que encontramos nesta devoção, muitas semelhanças com a devoção prestada a Maria pela Ordem de Cister, sobretudo, pela figura do abade S. Bernardo, que foi o grande inspirador da Ordem do Templo, e como é do conhecimento geral, foi também o grande divulgador do culto Mariano. Assim, através desta conotação podemos deduzir, que a Ordem do Templo nutria também uma grande simpatia pelo culto Mariano e, por sua vez, ao culto da Grande Deusa, como mais adiante se justifica. Sendo esta a razão, porque aqueles grandes Senhores de manto branco representaram nos pórticos das Catedrais góticas, a parte mais intima da Deusa, a sua vulva.

Na verdade, o culto Templário que era prestado a Maria, escondia o culto à outra Maria, ou até mesmo o culto prestado à "Virgem Negra". Aliás, era atribuido aos Cavaleiros Templários a responsabilidade de terem trazido da Terra Santa para a Europa este último culto, e de o terem associado ao culto prestado a Maria Madalena. Esta possibilidade é-nos certificada pelo próprio S. Bernardo, o primeiro religioso a difundir ao mundo cristão, que a noiva morena dos Cânticos de Salomão estava associado a Maria Madalena.

Por outro lado, pelo facto de todas as Catedrais góticas, patrocinadas pelos Cavaleiros Templários serem todas elas dedicadas a Maria e, decimuladamente a Maria Madalena, nomeadamente as que foram construidas em França, pelo que todas elas são denominadas por "Notre Damme", inclusive a mais célebre das Catedrais, a Notre Damme de Paris, leva-nos a crer que aquela “Virgem” conhecida também pela “outra Maria”, era a figura feminina mais sagrada e venerada para os Templários. E, justifica-se plenamente a razão de tal veneração. Pois, por ter estado nominalmente presente nas passagens mais marcantes e significativas na vida do Cristo, como a Paixão e a Ressurreição, Maria Madalena foi com toda a certeza uma das personagens mais enigmáticas do Novo Testamento. Pelo que para os Templários simbolizou a discípula que ama o mestre acima de tudo, a testemunha da Sua Ressurreição, e a portadora da Boa Nova, que são razões mais do que suficientes para ser considerada por estes a primeira Apóstola. Aliás, na tradição gnóstica, a tradição que era seguida pelos Templários, Maria Madalena também possui um papel de grande relevância, como sendo a transmissora da Gnose, e a portadora da Luz, o que faz dela também o símbolo do verdadeiro Iniciado.

Em face do exposto, torna-se indispensável recordar, que o culto da Virgem é um dos arquétipos mais fortes de toda a história da humanidade. Desde os mais remotos tempos, que existe uma relação prototípica entre a Virgem e a Lua. Essa Virgem-Lua, que no contexto teológico cristão, dá pelo nome de Maria, e no contexto gnóstico, dá pelo nome de Maria Madalena. Mas, que tanto num contexto, como no outro, é aquela que reflecte e difunde na Terra a luz mística do Cristo-Sol.

Por outro lado, as "Deusas" e as “Virgens” mediante um processo de sincretismo, todas elas descendem da Grande Mãe. E, as inscrições contendo explicitamente o nome de Isis, numa estátua da “Virgem”, que fora descoberta na Catedral de São Estevam, em Metz, eliminam qualquer dúvida sobre a correspondência entre Maria e a Grande Mãe. Aliás, a própria Catedral de Chartres, uma das Catedrais góticas mais conhecidas no mundo cristão, tal como muitas outras Catedrais cristãs dedicadas à Virgem Maria, ou à outra Maria, fora erigida num local de peregrinação consagrado à Grande Deusa, antes do cristianismo. Pelo que em Chartres, continua a ser homenageada a Virgem e Mãe, só que, em vez de se chamar Ísis, Ceres,Tara; Deméter ou Ártemis, tem o nome de Maria, ou seja, a Grande Deusa assume uma miríade de nomes. E, para reforçar esta metamorfose, Maria tal como as anteriores grandes Deusas, manifesta também uma ligação arquetípica com a água, o precioso líquido da vida e do baptismo. Aliás, todos os cultos relacionados com a Grande Mãe, invariavelmente, estão relacionados com os poderes regeneradores da água. Para além destes arquétipos e lendas atribuídas às “Deusas”, estas ainda estão associados ao arquétipo feminino da fecundação, o qual desde os tempos pré-históricos está muito associado à fecundidade da terra. Daí as “Virgens” ou as “Deusas” serem geralmente representadas com uma criança ao colo e, muitas delas apresentarem a cor da terra. Como as Grandes Deusas Ísis, Ártemis e Ceres, as quais também eram representadas como Deusas negras, por estarem ligadas à fertilidade e à terra.

Em termos Alquímicos, as “Virgens Negras” simbolizam a matéria no seu estado primordial, uma vez que nessa velha ciência, a cor preta é considerada a primeira fase da Grande Obra, por corresponder ao estado de fermentação, de putrefacção e de ocultamento. Enquanto que a cor branca, pelo contrário, corresponde à iluminação e à elevação espiritual. Pelo que as estátuas da Virgem Maria eram tidas pelos Templários como simples objecto de devoção, enquanto que para estes Iniciados, as imagens de Maria Madalena representava o princípio cósmico da criação e da regeneração da vida.

Todavia, o culto prestado à Grande Deusa em muitas Catedrais góticas, não se deve essencialmente à influência Templária, como foi o caso da Catedral de Chartes, acima mencionado, deve-se também ao facto de nas localidades onde foram construidas as Catedrais já se praticar há muito o culto à Grande Deusa, ou em outros casos por terem sido edificadas sobre antigos lugares de culto a deusas pagãs. Uma atitude que fora corroborada pelo próprio Papa Gregório, que exortou o clero de então a permitir que os aldeões das províncias pagãs recentemente convertidas, pudessem continuar a celebrar as suas antigas festas e erguer imagens em antigos locais de peregrinação onde foram erguidas igrejas cristãs. Aliás, esta foi uma prática constante da Igreja para a cooptação dos povos recém convertidos à fé cristã.

Na verdade, a Catedral gótica, que secretamente se tornou a casa da Grande Deusa, foi edificada de forma a se assemelhar ao ventre desta, por forma a atrair e prender o crente no seu interior, como a chama bruxuleante atrai e hipnotiza o insecto noctívago, pois a luz espectral e policroma dos altos vitrais que irradia para o seu interior, convida-o ao silencio e à oração, predispondo-o à meditação. Portanto, o ventre da Grande Deusa, é o refúgio hospitaleiro de todos os infortúnios. É o asilo inviolável dos perseguidos, e o sepulcro dos nobres e ilustres. É o centro da actividade pública e a apoteose do pensamento do conhecimento e da arte. É a cidade dentro da própria cidade. O seu aspecto abobadado de ventre fecundo, tal como as grutas e as cavernas, simboliza a vida que se dá ao crente em forma de renascimento espiritual. E, com base nesta simbologia, justifica-se qual foi a razão porque os portais das Catedrais góticas foram construídos de forma afunilada, e porque ostentam uma rosácea por cima destes, à semelhança de um clitóris, o único órgão do corpo humano concebido somente para dar prazer, o que torna a rosácea num ornamento pouco católico.

Na verdade, o feminino está sempre latente nestas grandiosas construções sagradas. A grande Rosácea, que espelha e projecta o pôr-do-sol para o interior do Templo, para além de lhe conferir uma luminosidade rubra, que é a cor da perfeição, está sempre rasgada nas fachadas das Catedrais a Ocidente, a direcção tradicionalmente consagrada às divindades femininas. Mas, se dúvidas houvesse ainda quanto ao arquetípico feminino que está associado às Rosáceas, depressa se desvaneceria, uma vez que compôe a grande rosácea aquilo a que se chama de “teia de aranha”, que é uma referência inequívoca à Grande Deusa, na sua plena manifestação de fiandeira e de senhora do destino do homem, o que a transforma em mais um estranho símbolo para um Templo cristão. E, tanto mais quando os mistérios do feminino assentam exclusivamente num conceito carnal, místico e religioso, onde a sua energia e poder provém da sexualidade e a sabedoria do conhecimento da rosa. Rosa que foi também usada pelos trovadores e pelos alquimistas, como anagrama de Eros, ou do amor sexual. Aliás, existe uma lenda atribuida aos Templários que nos diz que “quem ousar erguer o véu de Isis e interpretar com sabedoria e inteligência os seus segredos e mistérios, obterá o baptismo da Sabedoria e será superior em Glória, Poder e Força”. Aliás, os iniciados nos mistérios de Isis reconhecem nesta lenda, a fórmula esotérica muito usada pelos alquimistas espirituais: “A primeira matéria recolhe-se no sexo de Isis”.

Por outro lado, em todas as civilizações, a humanidade considerou os círculos e as circunferências associados tanto às deusas como a todas as coisas femininas, fossem elas esotéricas ou biológicas. Até mesmo nas civilizações pré-históricas, os círculos eram um símbolo arquétipo do feminino. Razão porque nessas remotas eras, as construções tumulares eram redondas, as chamadas “mamoas”, para representarem o ventre da terra mãe, que acolhia os seus mortos para os fazer renascer como espíritos.

Assim, pela magia da vulva, o visitante é atraído ao interior da Catedral gótica, com o respeito que é devido à Grande Deusa. Num profundo silêncio e com disposição à interiorização, de conformidade com o espaço que pisa. Junto a uma pia de água benta, quase sempre representada por uma gigantesca concha octogonal, símbolo da natividade da Deusa, com as pontas dos dedos embebidas nesse precioso líquido da vida, dá inicio ao ritual da água, e com este se purifica, para poder receber a Luz sagrada.

Construções Templárias dão Origem à Moderna Maçonaria

O contacto que a Ordem do Templo teve com a cultura dos povos árabes, judeus e cristãos ortodoxos Orientais do Império Bizantino, proporcionou aos seus Cavaleiros uma visão do mundo mais alargada e mais consentãnea com a realidade deste, até então, limitada ao cristianismo católico romano, que durante a Idade Média, não admitia qualquer conhecimento que fosse diferente do que preconizavam os doutores da Igreja, e quem arguisse sobre o seu conhecimento, corria sérios riscos de sofrer os suplícios da Santa Inquisição.

Todavia, mesmo o conhecimento do sagrado, pode ter várias interpretações, uma a do Iniciado, que conhece os mistérios, e a outra a do profano, que observa os símbolos sem conhecer o seu significado. Neste princípio, também o conhecimento Templário se julga dividido numa sabedoria exotérica e numa sabedoria esotérica. Porém, este último saber, somente estava reservado a alguns membros da Ordem do Templo e, provávelmente, a uma Ordem Interna, dentro da Ordem Externa, à qual só podiam pertencer membros que fossem escolhidos por um nucleo muito restrito e secreto da primeira, que sob juramento de absoluto sigilo e de obediência, em rituais secretos, obtinham a sua filiação. Aliás, até é muito provável, que alguns membros desta restrita Ordem Interna tivessem sido Iniciados nas escolas de mistério do Oriente, onde por certo, lhes foi revelada a sabedoria secreta do passado, que muito contribuiu, tanto para o saber Templário nas diversas disciplinas do conhecimento, como para a sua vocação de grandes construtores.

Na verdade, nos seus Estados, os Templários foram conhecidos, tanto como disciplinados guerreiros, como por grandes construtores, dado que nos seus Estados promoveram a construção de castelos fortificados, portos, pontes, estradas, celeiros e moinhos, bem como alojamentos para as suas tropas, estábulos e oficinas e até fundaram povoações. Aliás, muitas cidades históricas devem a sua fundação aos Cavaleiros Templários, como Tomar e Castelo Branco. Diversas ruínas situadas no Sul da Europa e na Palestina demonstram ainda hoje, porque razão os Cavaleiros Templários eram conhecidos como grandes engenheiros construtores e porque eram conhecidos por “Fratres Salomonis”.

Como construtores, os Cavaleiros Templários distinguiram-se na edificação das Catedrais góticas, que no seu tempo, proliferaram por toda a Europa. Aliás, quase todas as Catedrais góticas existentes, foram construídas, ou foram iniciadas durante o seu periodo histórico. Pelo que por consequência de terem dirigido os trabalhos de construção nas mais variadas obras públicas, ou simplesmente por terem exercido a função de Mestres com funções de supervisão destas obras, com a inerente competência de instrução dos Aprendizes maçons. Muitos destes Cavaleiros receberam também a Iniciação de Companheiros maçons, tornando-se ao mesmo tempo, tanto Cavaleiros Guerreiros, como Companheiros da Arte Real. Como prova concreta desta dualidade de qualidades, temos o facto de na cidade de Metz, ter havido uma fraternidade de maçons que se reunia na Comendadoria dos Templários.

Por outro lado, sabe-se que pelo facto dos obreiros da Arte Real estarem ao serviço desta Ordem, recebiam como contrapartida, o reconhecimento de serem artesãos de mestres francos, ficando por isso isentos de muitos impostos, ao mesmo tempo que gozavam de imunidades, que lhes permitia viajar e exercer livremente o seu ofício, o que naquela época acontecia ciclicamente, por motivo de guerras, pestes, ou outros flagelos, o que levava à interrupção das construções. Assim, o livre trânsito destes maçons entre os diversos Estados da Europa, permitiu-lhes ganhar o nome de franc-maçons, ou de pedreiros livres, cujas associações, confrarias, ou grémios destes pedreiros acabaram por ser o alicerse da Maçonaria que hoje conhecemos.

Outro aspecto a ter em consideração para analisarmos a influência que os Cavaleiros Templários tiveram na construção das Catedrais góticas, é o facto que depois de se terem relacionado com a cultura Oriental, as Comendadorias dos Templários passarem a ter no seu activo, um “Magister Carpentarius”, que era na acepção das suas funções, um verdadeiro arquitecto, que exercia total autoridade sobre os pedreiros, carpinteiros e argamassadores recenseados como colaboradores da Ordem.

Na verdade, por consequência da acção da “Sanra Inquisição”, após a aparente dissolução da Ordem do Templo, as Confrarias de Pedreiros foram o abrigo seguro para muitos Cavaleiros Templários. Pelo que a ligação da Maçonaria com a Ordem destes Cavaleiros é aceite por muitos investigadores, não apenas na qualidade de iniciadora, mas também como depositária das principais tradições. Pois, há fortíssimos indícios que, da união entre os Templários e as Guildas de Pedreiros Medievais se formou a base do que viria a ser a Maçonaria. Naturalmente, com o passar dos anos, todos os que tinham justos motivos para se ocultarem dos rigores da Igreja juntaram-se aos Maçons (Rosacruzes, Alquimistas, Pitagóricos, Astrólogos, Cabalistas...). Por cosequência, as Confrarias de Pedreiros tinham uma estreita ligação com a Ordem do Templo. Não só porque os seus membros acompanhavam os Cavaleiros Templários nas suas construções, como também porque o seu corpo especializado em construções e fortificações as integrava.

Outro marco da infloência Templária na Maçonaria, é o facto das Catedrais góticas esconderem na sua arquitectura mistérios que estão muito para além do culto cristão, mais consentâneos com os cultos sagrados pagãos, o que nos leva a supor, que os construtores destes belos Templos de pedra talhada, eram Iniciados nos antigos cultos esotéricos e, deste modo, parece que os obreiros da arte real tinham um evidente relacionamento com os Cavaleiros Templários. Aliás esta hipótese é reforçada, pelo facto da pedra considerada como fundamental em toda a construção de uma Catedral gótica, ser um cubo perfeito, na qual, segundo a lenda, os construtores faziam inscrições misteriosas, orações e desenhos cujo significado era somente do seu conhecimento. Ritual, que nos leva a associá-lo à pedra cúbica dos Templários e dos Maçons, a qual para os Templários, quando colocada no interior dum círculo, significava “a Terra nos céus”. Aliás, um simbolo alquímico e herético, que não foi difícil provar na acusação que fora feita contra estes a quando do seu célebre julgamento. Enquanto que a pedra cúbica para o Maçons, significa a obra-prima que o Aprendiz Maçom deve realizar ao longo da sua vida terrena, a perfeição absoluta que este deve aspirar, e a pedra angular do seu templo imaterial, ou seja, do seu Templo Interno. Nas Lojas Maçónicas, ainda podemos encontrar o legado Templário nos diversos simbolos que as ornamentam, como seja a existência da cruz pátea em muitos estandartes e brasões destas, os losangos negros e brancos que derivam da sua bandeira, a orla dentada, a bandeira de guerra marítima com a caveira e duas tíbias cruzadas, bem como diversas tradições Templárias que impregnegam muitos ritos maçónicos, como sejam:

· No Rito Escocês Rectificado – rito nitidamente ligado à "Tradição Templária" e à "Gnose Cristã". Aliás, este Rito é aquele que mais próximo está da Maçonaria Operativa de origem Medieval.
· No Rito Sueco – onde toda a maçonaria nórdica, que segue este ritual, afirma ter a sua descendência nos Templários.
· No Rito de Menfis-Misraim – onde também se reconhece a proveniência Templária do rito.
· No Rito de York (Americano) – onde os seus Altos Graus, culminam no Grau de Grão Cavaleiro Templário.
· No Rito Escocês Antigo e Aceite – onde dos trinta e três graus, existem vários deles dedicados aos Templários.
· No Rito Inglês - ou de Emulation, que retracta a Lenda Templária.

Em suma, tanto nos eus símbolos, lendas, costumes e tradições, a Maçonaria não esqueceu as origens Templárias.

Diferenças entre o Estilo Românico e o Estilo Gótico

Quando a arquitectura de estilo gótico surgiu na Europa, esta foi considerada como sendo um estilo completamente novo, muito diferente da arquitectura românica que lhe precedeu, o que seria mais lógico e natural. Antes pelo contrário, comparados, são estilos arquitectónicos muito diferentes entre si. Pois, enquanto que o estilo românico é maciço, pesado e de linhas simples, com um interior sombrio, o que lhe confere uma atmosfera de segurança e de tranquilidade, muito propícia à submissão e à devoção do crente, o estilo gótico é muito iluminado e ricamente ornamentado, o que transferia para o homem medieval o significado de que a Catedral gótica era mais do que um Templo, pois, esta era também o seu centro social e o seu ponto de encontro com o divino. Na verdade, a Catedral gótica era o próprio coração da sua cidade.

Quanto às forças dinâmicas, os dois estilos também são muito diferentes entre si, uma vez que enquanto que a arquitectura românica se baseia numa força que age de cima para baixo, a arquitectura gótica baseia a sua força exactamente no princípio oposto, ou seja, neste estilo a pressão age de baixo para cima. Pelo que se a estrutura for mal construída, as consequências são para o estilo românico, simplesmente o de ruir, enquanto que para o estilo gótico, as consequências são o de explodir.

Por outro lado, quando comparamos visualmente um templo edificado com o estilo arquitectónico românico com um templo edificado com o estilo arquitectónico gótico, verificamos que estes últimos têm uma maior altura e uma maior graciosidade. Na verdade, pelo facto das naves dos templos de estilo gótico serem muito mais altas. Houve a necessidade básica de abrir janelas nas paredes para que o seu interior fosse iluminado com a luz natural, pelo que para isso, foi necessário aliviar o peso destas, construindo-as mais finas e, por consequência, foi necessário concentrar as cargas das abóbadas em determinados pontos, por forma a que as paredes deixassem de receber os esforços da sua sustentação, o que permitiu a abertura das grandes janelas. Por outro lado, a maior altura da nave central conduziu à necessidade de que estas fossem abertas por cima das naves laterais, de forma a iluminar naturalmente a nave central, ou seja enquanto que as naves laterais, onde se situam os nichos e toda uma estatuária sagrada e herética, está sempre mergulhada na penumbra, o que simboliza o corpo, já a nave central, por ser iluminada pela luz que vem do alto, significa o espírito. Por sua vez, na zona onde se cruzam os transeptos, onde se situa o altar mor, por ser a zona do templo mais iluminada, simboliza o coração deste e a morada da própria divindade.
Por conseguinte, na arquitectura de estilo gótico, o uso de arcos ogivais em diagonal veio a permitir direccionar o peso das abóbadas para os contrafortes e, estes por sua vez descarregam estas pressões no solo. Para isso, foi fundamental a adopção do arco ogival, o qual recebe diretamente as pressões exercidas pelo tecto. Assim, no estilo gótico, os contrafortes não são mais do que colunas internas encostadas às paredes, erguidas na parte exterior das naves laterais. Por sua vez, o segmento de arco que recebe a pressão exercida pelo peso da abóbada e que a transmite ao contraforte, chama-se arcobotante, bem visivel em muitas catedrais góticas famosas. Em suma, no templo de estilo gótico existe uma série de forças em equilíbrio, que se compensam umas às outras, sendo os contrafortes e os arcobotantes aqueles que sustentam todo o edifício. Na verdade, no estilo gótico, as janelas dos templos são tão grandes que reduziram o edifício a um simples esqueleto de pedra, fechado por janelas e, estas forçosamente na forma ogival.

Quanto ao frontispício das Catedrais góticas, este geralmente é delimitado por duas torres que partem da base das naves laterais, perfuradas por janelões e rematadas por pináculos em forma de agulha. No meio das duas torres, no centro do edifício situa-se geralmente a rosácea central, um imenso círculo que deixa passar a luz filtrada em sentido longitudinal, iluminando o altar-mor ao fundo da igreja. Lateralmente, nos transeptos, existem mais duas rosáceas irmãs, embora de tamanho mais pequeno. Nas Catedrais góticas a rosácea é um elemento muito importante na medida que a sua forma circular remetenos para dois símbolos: o Sol, símbolo de Cristo e a Rosa, símbolo de Maria.

Claro, que no sentido mais prático e lógico, as Rosáceas foram abertas no frontispício e nos transeptos das Catedrais góticas para que a luz entrasse no seu interior. Contudo, não a luz clara e nua do Sol, mas sim, a luz macilenta, um pouco coada e até, um tanto filtrada e multicolorida, que cria uma atmosfera propícia à contemplação e ao recolhimento. E, no sentido simbólico as Rosáceas têm um grande significado, nomeadamente: a Rosácea que se abre na fachada do transepto esquerdo, a setentrional, que nunca é iluminada pelo Sol e, por isso simboliza a escuridão, a matéria no seu estado bruto, a morte. Já a Rosácea meridional, aberta na extremidade do transepto da direita, quando é iluminada pelo Sol do meio-dia, irradia uma luminosidade branca, a cor das vestes do Iniciado que acaba de abandonar as trevas e que se dirige para a Luz. Por sua vez, a rosácea central, que ultrapassa em superfície, em beleza e em brilho as rosáceas laterais, suas irmãs, ao receber os raios coloridos do pôr-do-sol, projecta para o interior da Catedral uma luz espectral e policroma de tonalidade rubra, que é sinónimo da absoluta perfeição e, do domínio do espírito sobre a matéria, que de um modo cíclico, diariamente, reflecte no chão sagrado as cores da Obra.

Por outro lado, para além das Rosáceas servirem para iluminarem naturalmente o interior das Catedrais góticas, servem ainda para suportarem a “teia” que agrupa os vitrais em representações das principais cenas da história da Igreja e, dos episódios mais marcantes do Antigo e do Novo Testamento, a fim de com este recurso gráfico, os visitantes, mesmo que iletrados, possam facilmente aprender o sagrado.

O frontispício de um Catedral gótica divide-se em três partes horizontais: a inferior ou base, onde estão as três portas, ou entradas do templo, sendo a porta central maior do que as laterais, onde há sua volta destingue-se as arquivoltas, muito trabalhadas e esculpidas, em forma ogival, para representarem a sexualidade da deusa, aquelas que dão acesso ao grande ventre.

Em suma, A catedral gótica, eleva-se para o céu como uma oração e tal como a filosofia medieval, exprime o intangível e transcende o homem na sua procura do além. E, em termos mais “terrenos” a Catedral gótica não é mais que uma estrutura esqueléctica de pedra coberta por vitrais, cuja complexidade de equilíbrios exigiu do “mestre-construtor” um conhecimento matemático muito mais exigente do que aquele que lhe fora exigido pelo estilo arquitectónico românico, o qual por ser muito avançado para o conhecimento medieval, releva-o para mais um elemento preponderante à tese de que a arquitectura gótica tenha surgido na Europa através de um conhecimento secreto, adquirido no Oriente, na altura uma cultura mais evoluida que a Ocidental.

A Influência Templária na Construção das Catedrais Góticas

Por consequência da actividade económica, das muitas doações de bens e da acção bancária, os Cavaleiros do Templo obtiveram grandes recursos financeiros, dos quais, uma boa parte canalizaram para a edificação das Catedrais góticas, cuja arquitectura monumental e transcendente, ainda hoje consegue surpreender quem as visita. Pois, para além de serem construções medievais que resistiram à erosão dos séculos, conseguem ainda hoje surpreender os seus visitantes, por serem verdadeiros santuários da tradição, da ciência e da arte medieval. E, tanto maior será a admiração do visitante destes belos livros de folhas de pedra esculpida, se este tiver em consideração, que estas majestosas construções sagradas, só foram igualadas na sua grandiosidade, magnitude e esplendor, pelos Templos que foram erguidos no antigo Egipto.

Contudo, apesar da grandiosidade e magnificência do estilo gótico, tanto pelo facto deste ter surgido repentinamente na Europa, bem como pela sua expansão ser paralela ao periodo de desenvolvimento da Ordem do Templo, faz com que tenhamos a suspeita de que estes dois acontecimentos não foram um mero e simples acaso da história, mas que entre si se correlacionam. Aliás, muitos estudiosos do tema, admitidem, que o surgimento da arquitectura gótica na Europa, está muito associada à permanência dos Cavaleiros Templários na Terra Santa, uma vez que a sua estadia nessas distantes paragens, permitiu-lhes conhecer e contactar civilizações mais refinadas e cultas e, principalmente, permitiu-lhes o relacionamento com as associações de construtores há muito estabelecidas no Médio-Oriente, que à sombra de Bizâncio, sobreviveram à queda do Império Romano. Na verdade, porque o Médio Oriente não sofreu o efeito corrosivo das evasões bárbaras, e o consequente definhar das instituições Romanas, este passou a ser o verdadeiro reservatório do conhecimento antigo.

Por outro lado, pelo facto de se encontrarem nas bibliotecas de Bizâncio traduções de obras de autores gregos clássicos, concideradas pelo Ocidente há muito perdidas, veio a proporcionar que o saber antigo da Filosofia, da Medicina, da Matemática, da Geometria, da Cartografia, da Literatura, da Arquitetura entre outras ciências, viesse a ser parte do legado cultural do Oriente ao Ocidente. Aliás, o mesmo já tinha sucedido com a própria cultura Árabe, a qual soube adaptar-se muito bem a todos os ramos do saber. A sua própria religião é disso o exemplo, uma vez que como é sabido, foi inspirada no Judaísmo e no Cristianismo. Em particular, no caso da Arquitectura, os Árabes souberam construir edifícios dedicados ao sagrado, na base de uma arquitectura de estilo bizantino (arte do Império Romano do Oriente) e persa, apenas simplificada pela não reprodução de imagens humanas e animal, a fim de evitar a idolatria.

Por conseguinte, o conhecimento secreto da construção de arcos, com abóbadas de pedra reforçada com traves, antes das cruzadas, era somente conhecido pela cultura Árabe e, foi através dos cruzados e, muito particularmente pela Ordem do Templo, que esta chegou à Europa, onde rapidamente foi incorporada na arquitectura sagrada Ocidental, dando assim origem a um novo estilo arquitectónico transcendente, que universalmente veio a ser conhecido por estilo gótico, chegando mesmo a caracterizar uma época histórica, como sendo em termos artísticos, a mais esplendorosas e empolgantes da Europa. Aliás, a influência que a cultura àrabe impregnou neste novo estilo arquitectónico está bem patente na frase atribuida ao último Grão Mestre da Maçonaria Operativa da Inglaterra, o arquiteto Christophen Wren, quando nos diz que “o que hoje chamamos de gótico, deveria antes chamar-se de arquitetura sarracena refinada pelos cristãos”.

Assim, por consequência da obtenção do conhecimento secreto da geometria dos maçons residentes no Médio-Oriente (se não com a contratação dos próprios maçons Orientais, pois que de outra forma se pode justificar a quantidade de mão-de-obra altamente qualificada disponivel para a construção de centenas de Catedrais, todas elas a serem construidas ao mesmo tempo), a Ordem do Templo soube adicionar a este novo estilo uma nova linguagem forma, e uma panóplia de símbolos mágicos e místicos, que mais nos parecem ser um código de uma escrita secreta, iniciática e alquímica, com o intuito de transmitir ao visitante das suas construções dedicadas ao sagrado, que em todos os tempos, o ser humano tem necessidade de encontrar um caminho recto, que o conduz em segurança e em paz, através da floresta de símbolos em que se encontra submerso, e que muitas vezes, no mundo profano, se encontra completamente perdido.

Outro facto não menos relevante e digno de ser tido em conta ao associarmos os Cavaleiros do Templo à construção das grandes Catedrais góticas, foi que por consequência do contacto havido com os cultos dos cristãos Orientais, principalmente com a Igreja copta, os Cavaleiros do Templo vieram a encontrar várias similaridades entre os cultos do Ocidente e os cultos que eram praticados no Oridente. Nomeadamente, o culto dedicado à “Virgem Negra", que de imediato foi por estes Cavaleiros associado como sendo o culto prestado à Santa Maria Madalena. Santa muito considerada pela Igreja Ortodoxa, que a canonizou em 886 e, cujas relíquias repousaram em Constantinopla, a antiga Bizâncio. Cidade que na altura, era considerada o maior centro financeiro, mercantil e cultural de todo o Médio Oriente. No seu apogeu, chegou a ter apróximadamente 35 milhões de habitantes. Durante muitos séculos, foi pelo Ocidente vista como uma segunda Roma, ao mesmo tempo que era um verdadeiro chamariz de Ocidentais, uma vez que no interior das suas muralhas, tinha uma impressionante oferta de reliquias sagradas, num tempo em que a sua posse para além de significar poder e riqueza, significava acima de tudo importância, dado que a posse de relíquias valorizava o burgo, pelo facto destas encherem de espanto os olhos dos crentes e incendiarem a imaginação dos superticiosos.

Assim, por muitos estudiosos é tido como certo, que foram os Cavaleiros Templários os reponsáveis por terem trazido para a Europa o culto a Maria Madalena e, provavelmente, a razão primordial porque a Ordem do Templo dedicou quase todas as suas Catedrais góticas a Maria, ou à outra Maria. Por conseguinte, para os Cavaleiros Templários, o culto a Maria Madalena, ou o culto à “Virgem Negra”, não eram mais do que manifestações ao mundo divino, nas diversas interpretações e culturas.

Em suma, os Cavaleiros Templários como homens práticos que eram, nos contactos que tiveram com as outras culturas, procuraram somente conhecer e reter os segredos do mundo que os rodeava, para melhor estarem preparados para as outras vidas que os esperavam. E, por consequência desta apetência pelo conhecimento, alcançaram segredos mágicos e alquímicos, que lhes deram a vantagem de possuírem o que actualmente denominamos por ciência.

O Esoterismo de uma Catedral Gótica

Numa Catedral gótica, encontramos bizarras figuras que se agarram aos pináculos, colam-se aos arcobotantes, prendem-se aos muitos frisos de pedra talhada, suspendem-se nas abóbadas, e até se escondem nos mais recondidos nichos e nos mais sombrios recantos, que pela sua profusão e simbolismo, parecem contradizer o fim para que aquelas jóias da arquitectura foram edificadas, dado que fazem parte integrante da decoração de uma Catedral gótica, uma panóplia de figuras que bem poderiam ser consideradas sacrílegas, ou no mínimo heréticas, que vão desde as horrendas gárgulas, até aos ameaçadores dragões alados e aos vampiros de aspecto assustador, passando pelos misteriosos ciclopes, até às figuras que entroncam e dão vida aos contos e às lendas da mitologia celta, como sejam as figuras do homem verde e do seu deus “Pan”, que por ter sido apresentado aos cristãos, libidinoso e o principal figurante em ritos considerados por estes de deboche e de libertinagem, durante muito tempo, foi confundido com o próprio demónio cristão.

Todavia, apesar desta figura metade homem e metade bode, semelhante a muitas representações do “Bafomé” dos Templários, causar ao homem medieval calafrios e medos justificados, para nossa grande surpresa, não deixou de ornamentar com grande destaque, os frisos dos pórticos da maioria das Catedrais góticas. Pelo que esta figura de aspecto horripilante, tal como o símbolo Templário de que muito se assemelha, parece ter sido ali colocado, para transmitir ao Iniciado, que transpõe o pórtico da Catedral gótica, de que está a entrar num espaço sagrado, que o transcenderá à essência Divina e, que uma vez catapultado para essa dimensão cósmica, se confundirá com o próprio Deus, uma vez que neste espaço sagrado lhe é transmutado o verdadeiro sentido da humanização.

Para além desta criativa e surpreendente estatuária de aspecto horripilante e sacrílego, convivem lado a lado com estes monstros de pedra esculpida, uma fauna não menos bizarra e peculiar, uma vez que apesar de ser considerada pela cristandade medieval, maldita e pagã, não deixaram de ornamentar estes colossos símbolos da fé cristã. É o caso do grifo, que é uma figura mitológica meio leão, meio águia, e que a antiga Igreja Cristã considerava ser o invólucro do demónio; ou até mesmo o cavalo, que por esta Igreja foi durante muito tempo considerado ser a montada das forças das trevas; e muitos outros animais considerados por esta malditos e impuros, fazem parte integrante da decoração das Catedrais góticas, como é o caso do bode, que para aquela Igreja era o símbolo da luxúria; a loba, que esta considerava ser o símbolo da avareza; o tigre, que considerava ser o símbolo da arrogância; o escorpião, considerado ser o símbolo da traição; o leão, considerado ser o símbolo da violência; o corvo, considerado ser o símbolo da malícia; a raposa, considerada ser o símbolo da heresia; a aranha, considerada ser o símbolo do diabo; o sapo, considerado ser o símbolo do pecado, e muitos outros animais com conotações sacrílogas ou perniciosas para esta.

Para além desta intrigante e peculiar fauna, fazem parte da decoração de algumas Catedrais góticas os símbolos alquímicos, andróginos, hermafroditas e também os símbolos que representam a eterna busca da juventude pelo homem, os quais, pelo menos em duas Catedrais, estão bem explícitos e muito visíveis. Um na Catedral de Chartres, numa gravura, onde está representada a rainha de Sabá exibindo uma barba, e outro na Catedral de Nantes, onde também numa gravura, está representada uma figura de um homem que aparente estar na flor dos anos, a olhar para um espelho, cuja parte posterior da cabeça é a de um homem que já viu e suportou bastantes invernias.

Na verdade, os símbolos alquimicos, que foram muito do agrado dos antigos maçons operativos, em todos os tempos têm sido considerados a fonte inesgotável de conhecimentos que prolongam a vida, e o cerne da longevidade, se não mesmo o segredo da verdadeira imortalidade física. E, por terem sido incluídos na decoração das Catedrais góticas, muitas delas financiadas pelos Cavaleiros Templários, descortinam-nos a pretensão que estes Cavaleiros tinham em quererem alcançar o último poder, o poder da imortalidade.

Um outro elemento patente na decoração de uma Catedral gótica, não menos surpreendente e intrigante, e que por sinal, também foi muito do agrado e apreço dos Cavaleiros do Templo são as misteriosas e inigmáticas Rosáceas, as quais são a primeira representação luminosa da transfiguração, a “roda” para os alquimistas, por representar o tempo necessário para o fogo transmutar a matéria e, o livro pintado para o ensino do sagrado através da arte vitral.

Na verdade, para além de outras possiveis caracterizações, o gótico distingue-se pelo intenso trabalho dos antigos maçons operativos, que com o malho e o cinzel, souberam manifestar físicamente através destes colossos o seu génio e o seu próprio trabalho interior, dado que estes monumentos reflectem a sua obra interna e externa. Pelo que podemos considerar que estes monumentos da cristandade substituiram o pergaminho, uma vez que a ornamentação esculpida, veio a ajudar a divulgar mensagens proibidas na impressão. Provavelmente, uma das principais razões porque foram as grandes Catedrais em pedra decoradas com a diversa, bizarra e sacrílega decoração, a qual ainda hoje, transmite aos crentes uma mensagem exotérica, e aos iniciados, uma mensagem esotérica. Porém, o conhecimento que estes templos emanam a quem os visita, nada poderá ser considerado mais laico, e pela profusão das imagens moldadas pela luz bácea que vem do alto, nada poderá ser considerado mais humano.